Anos atrás, em 2011, diante da informação de
que o cardápio da recepção de casamento do Príncipe William da Inglaterra com Kate Middleton ia ser britânico por excelência, muito antes de me
ocorrer rosbife ou Yorkshire pudding
ou salmão, eu me perguntava se eles iriam servir torta de ruibarbo. E não é que
serviram?!
Muito bem, há poucos meses, ao anunciarem o casamento do Príncipe Harry, irmão mais jovem do Príncipe William, e Meghan
Markle no próximo dia 19 de Maio, me vi pensando se eles usariam florzinhas silvestres na
decoração. E bingo, acertei novamente! Ah, se eu tivesse podido apostar...
Campo de flores silvestres na Inglaterra
Charles, príncipe de Gales e pai de William e
Harry, é defensor da preservação dos poucos campos floridos naturais que restam
na Grã-Bretanha e luta pela recuperação de outros, um movimento que vem
ganhando impulso por lá. Como Harry compartilha das preocupações do pai sobre
Natureza, intuí algo nesse sentido. Aliás, os noivos foram além: conforme
anúncio do Palácio de Kensington, as flores serão escolhidas tendo em mente
suas propriedades favoráveis à polinização “para oferecerem um ótimo habitat para abelhas e ajudarem a nutrir
e sustentar ecossistemas inteiros ao promoverem um ambiente saudável e
biodiverso”.
Abelhas? Zumbindo para lá e para cá durante a
cerimônia e a recepção? Não entendi bem... De toda maneira, as flores e
folhagens virão do Grande Parque de Windsor, adjacente ao castelo onde Harry e
Meghan se casarão, e de campos e parques de outras propriedades reais
espalhadas pelo Reino Unido. Os arranjos
florais refletirão as paisagens silvestres originais. Ramagens e algumas flores
ornamentais como rosas brancas, favoritas de Diana, a falecida mãe do noivo, e peônias, favoritas da noiva, reforçarão a decoração. Após o evento,
os arranjos feitos com flores cortadas serão doados a instituições de
caridade; já as plantas “pró-abelhas”, plantadas em potes e vasos, serão
replantadas e espero que as abelhas entrem em cena somente após esta etapa.
Campo de narcisos às margens do Lago Virgínia no Grande Parque de Windsor
Pequeno campo de flores silvestres no Parque de St. James,
em Londres, com o Palácio de Buckingham ao fundo
Tudo isso serve de preâmbulo para um questionamento
de minha parte: enquanto a família real britânica está fazendo um verdadeiro tour-de-force para produzir essa
decoração com flores silvestres para o casamento do ano, em Cunha, onde moro, muito poucos prezam
e se atentam à exuberância das flores silvestres locais, do campo ou do brejo,
notadamente no Verão.
Desde que comecei a frequentar Cunha anos atrás, me
chamam a atenção florzinhas azuis salpicando pastos de altitude e, emergindo
das pedras, grupos de orquídeas cor-de-rosa encimando longas hastes, Amarílis
vermelho-alaranjadas e plantas com flores roxas, talvez parentes de
quaresmeiras. Nos brejos, a atração são plantas formando nuvens de flores
brancas, creme, amarelas, lilás e roxas e capins com hastes terminando em penachos dos
mais diferentes formatos.
Amarilis em seu habitat natural
No Verão depois que me mudei definitivamente para cá há quase três anos, uma amiga veio me visitar e os passeios levavam horas, pois ela parava o carro a cada instante para admirar, fotografar ou colher uma flor.
Ornando a mesa do lanche, arranjo improvisado de flores coletadas
ao longo dos caminhos de Cunha por uma amiga entusiasmada
ao longo dos caminhos de Cunha por uma amiga entusiasmada
Desde então, meu encantamento com as flores silvestres e capins locais vem num crescendo e atualmente venho me lançando pelas estradas rurais em expedições fotográficas com meu celular, atividade que virou verdadeira fonte de prazer e deslumbramento.
Cunha (SP) explodindo em flores e cores no Verão
O desafio agora é tentar identificar o que vejo,
chamar as plantas pelo nome e conhecê-las melhor. O seguinte será compartilhar
esse conhecimento e contagiar outros com meu entusiasmo. Daí para frente, estou
certa, nossas flores silvestres começarão a ser devidamente apreciadas.
Encontradas em solos rochosos a maiores altitudes
(aqui a 1700 m), estas flores da família das Orquídeas,
provavelmente são Epidendrum secundum, conforme
indicou Alexandre Gibau, graduando de
Ciências Biológicas pela ESALQ de Piracicaba
(aqui a 1700 m), estas flores da família das Orquídeas,
provavelmente são Epidendrum secundum, conforme
indicou Alexandre Gibau, graduando de
Ciências Biológicas pela ESALQ de Piracicaba
Guaguatá, nome popular de planta típica dos brejos,
conforme identificado pelo jardineiro e sitiante local
Antônio Marciano dos Santos
Crocosmia x crocosmiiflora, identificado pela arquiteta e
paisagista Inez Veiga, é um híbrido desenvolvido na França
a partir de planta originária do Leste da África. Ornamental,
adaptou-se e disseminou-se largamente por Cunha onde é
chamado de chicotinho e também de estrela-de-fogo ou tritônia.
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