segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Casamento Inglês II: A hora e a vez das flores silvestres

Anos atrás, em 2011, diante da informação de que o cardápio da recepção de casamento do Príncipe William da Inglaterra com Kate Middleton ia ser britânico por excelência, muito antes de me ocorrer rosbife ou Yorkshire pudding ou salmão, eu me perguntava se eles iriam servir torta de ruibarbo. E não é que serviram?!

Muito bem, há poucos meses, ao anunciarem o casamento do Príncipe Harry, irmão mais jovem do Príncipe William, e Meghan Markle no próximo dia 19 de Maio, me vi pensando se eles usariam florzinhas silvestres na decoração. E bingo, acertei novamente! Ah, se eu tivesse podido apostar...

Campo de flores silvestres na Inglaterra

Charles, príncipe de Gales e pai de William e Harry, é defensor da preservação dos poucos campos floridos naturais que restam na Grã-Bretanha e luta pela recuperação de outros, um movimento que vem ganhando impulso por lá. Como Harry compartilha das preocupações do pai sobre Natureza, intuí algo nesse sentido. Aliás, os noivos foram além: conforme anúncio do Palácio de Kensington, as flores serão escolhidas tendo em mente suas propriedades favoráveis à polinização “para oferecerem um ótimo habitat para abelhas e ajudarem a nutrir e sustentar ecossistemas inteiros ao promoverem um ambiente saudável e biodiverso”.

Abelhas? Zumbindo para lá e para cá durante a cerimônia e a recepção? Não entendi bem... De toda maneira, as flores e folhagens virão do Grande Parque de Windsor, adjacente ao castelo onde Harry e Meghan se casarão, e de campos e parques de outras propriedades reais espalhadas pelo Reino Unido. Os arranjos florais refletirão as paisagens silvestres originais. Ramagens e algumas flores ornamentais como rosas brancas, favoritas de Diana, a falecida mãe do noivo, e peônias, favoritas da noiva, reforçarão a decoração. Após o evento, os arranjos feitos com flores cortadas serão doados a instituições de caridade; já as plantas “pró-abelhas”, plantadas em potes e vasos, serão replantadas e espero que as abelhas entrem em cena somente após esta etapa.

Campo de narcisos às margens do Lago Virgínia no Grande Parque de Windsor
Pequeno campo de flores silvestres no Parque de St. James,
em Londres, com o Palácio de Buckingham ao fundo

Tudo isso serve de preâmbulo para um questionamento de minha parte: enquanto a família real britânica está fazendo um verdadeiro tour-de-force para produzir essa decoração com flores silvestres para o casamento do ano, em Cunha, onde moro, muito poucos prezam e se atentam à exuberância das flores silvestres locais, do campo ou do brejo, notadamente no Verão.

Desde que comecei a frequentar Cunha anos atrás, me chamam a atenção florzinhas azuis salpicando pastos de altitude e, emergindo das pedras, grupos de orquídeas cor-de-rosa encimando longas hastes, Amarílis vermelho-alaranjadas e plantas com flores roxas, talvez parentes de quaresmeiras. Nos brejos, a atração são plantas formando nuvens de flores brancas, creme, amarelas, lilás e roxas e capins com hastes terminando em penachos dos mais diferentes formatos.

Amarilis em seu habitat natural

No Verão depois que me mudei definitivamente para cá há quase três anos, uma amiga veio me visitar e os passeios levavam horas, pois ela parava o carro a cada instante para admirar, fotografar ou colher uma flor.

Ornando a mesa do lanche, arranjo improvisado de flores coletadas
ao longo dos caminhos de Cunha por uma amiga entusiasmada

Desde então, meu encantamento com as flores silvestres e capins locais vem num crescendo e atualmente venho me lançando pelas estradas rurais em expedições fotográficas com meu celular, atividade que virou verdadeira fonte de prazer e deslumbramento.

Cunha (SP) explodindo em flores e cores no Verão

O desafio agora é tentar identificar o que vejo, chamar as plantas pelo nome e conhecê-las melhor. O seguinte será compartilhar esse conhecimento e contagiar outros com meu entusiasmo. Daí para frente, estou certa, nossas flores silvestres começarão a ser devidamente apreciadas.

Encontradas em solos rochosos a maiores altitudes
(aqui a 1700 m), estas flores da família das Orquídeas,
provavelmente são Epidendrum secundum, conforme
indicou Alexandre Gibau, graduando de
Ciências Biológicas pela ESALQ de Piracicaba
 
Guaguatá, nome popular de planta típica dos brejos,
conforme identificado pelo jardineiro e sitiante local
Antônio Marciano dos Santos
Crocosmia x crocosmiiflora, identificado pela arquiteta e
paisagista Inez Veiga, é um híbrido desenvolvido na França
a partir de planta originária do Leste da África. Ornamental,
adaptou-se e disseminou-se largamente por Cunha onde é
chamado de chicotinho e também de estrela-de-fogo ou tritônia.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Casamento Inglês II: Ainda sobre tendas e coberturas

Quando por conta de casamento real de 2011, escrevi sobre casamento inglês em geral, comentei que em minha opinião, a decoração das festas realizadas nas antigas casas e solares se beneficiaria muito com a instalação de coberturas transparentes à brasileira, uma extensão harmônica e leve do imóvel, em vez das costumeiras "tendas de circo" instaladas isoladas no meio do jardim e desconectadas de seu entorno.

 
Cobertura tradicional de festas na Inglaterra - estas, bem aprumadas.

 
Coberturas transparentes à brasileira, que funcionam como extensão da casa.

Para o casamento real agora em Maio, não sei se uma cobertura ou tenda será instalada na Frogmore House, próxima ao castelo de Windsor, onde o Príncipe Charles, pai do noivo, Príncipe Harry, oferecerá uma festa para cerca de duzentos convidados na noite do casamento. Afinal, salões não faltam lá a começar pela galeria chamada The Colonnade com portas envidraçadas dando para o jardim. Por outro lado, o estilo arquitetônico e a fachada branca da casa do séc. XVIII não oferecem grandes atrativos a serem destacados.

 
Frogmore House e a galeria The Colonnade

Nos últimos tempos, parece que a prática do uso de tendas para festas deu um salto quântico na antiga Albion, não necessariamente para melhor, talvez tenham passado do ponto: em Maio do ano passado, para abrigar a recepção do casamento de Pippa Middleton e James Matthews, ela irmã de Kate, cunhada do atual noivo Príncipe Harry, em vez da costumeira e normalmente desengonçada "tenda de circo", montaram atrás da casa dos Middleton, uma desproporcional e ainda isolada cobertura de vidro - transparente, concordo, mas para ver o quê? Para estufa, não faltaram flores, só as plantas.

 
A mega cobertura de vidro com capacidade para 350 pessoas
sentadas usada em 2017 para a festa de casamento de
Pippa Middleton e James Matthews.

Atualização 20/Maio/2018: Para a festa do casamento de Harry e Meghan ontem à noite, 19/Maio, sim, optaram por uma cobertura de vidro transparente montada no jardim para abrigar os convidados durante o jantar sentado. Os britânicos seguem sem captar o espírito das coberturas transparente à brasileira.

O que me leva a outro comentário sobre esse recente casamento dos Middleton. Fiquei com a impressão de que de alguma forma, os pais quiseram compensar Pippa pela grandiosidade do casamento real da irmã em 2011 para o que não mediram recursos nem esforços. Um exemplo disso foi a mega-cobertura. Outro, foi o sobrevôo do local da recepção por um Spitfire da 2a Guerra Mundial - uma versão reduzida do sobrevôo do Palácio de Buckingham por um Spitfire, um Hurricane e um Lancaster em 2011? Que falta de ideia.

O sobrevôo do Palácio de Buckingham por um Spitfire, um Hurricane e um Lancaster
da 2a Guerra Mundial em comemoração ao casamento real em 2011.

O sobrevôo por um Spitfire da 2a Guerra Mundial da recepção
de casamento de Pippa Middleton e James Matthews em 2017.


Se em 2011, os Middleton brilharam justamente pela discrição e moderação, eu não poderia dizer o mesmo sobre eles em 2017...  

domingo, 6 de maio de 2018

Casamento Inglês II: O bolo

A proximidade do casamento do Príncipe Harry, da Inglaterra, com a atriz americana Meghan Markle em 19 de Maio me fez lembrar de artigo que escrevi sete anos atrás para a revista "Charlô" inspirado no casamento do irmão dele, o Príncipe William, com Kate Middleton.

De lá para cá, o tradicionalíssimo bolo de casamento à base de frutas secas e conhaque com cobertura de glacê decorado vem perdendo prestígio entre o público britânico a ponto de algumas vezes ser substituído por pilhas de doughnuts ou pior, por uma parede dessas rosquinhas, de gosto extremamente duvidoso. Sou mais nossos incomparáveis bem-casados!

Típico bolo de casamento à base de frutas secas e conhaque ou rum ou vinho do porto
com cobertura de glacê decorado. O da foto foi confeccionado pela boleira inglesa
Fiona Cairns, autora do bolo de casamento do Príncipe William e Kate Middleton em 2011.


Pilhas de "doughnuts" e - oh, céus! - uma parede deles...

Agora, o bolo de frutas secas sofreu um novo golpe ao ser substituído por Meghan e Harry por um de massa de pão-de-ló com recheio à base de limão e elderflower, cobertura mole de buttercream e decorado com flores naturais em vez de decoração na própria cobertura. Obra de Claire Ptak, uma confeiteira californiana residente em Londres. Certamente, seu sabor será mais palatável e sua textura mais leve que os do forte e denso bolo de frutas. Estamos vendo uma nova tendência, menos formal, se estabelecendo?

Se fosse no Brasil, à exceção de Pernambuco onde o tradicional bolo de frutas à inglesa segue imperando, eu diria que estaríamos vendo a volta dos bolos de casamento com cobertura de suspiro mole, o tal buttercream. Me lembro de minha preocupação e cuidado durante uma viagem de São Paulo até a praia para que a decoração do bolo de casamento de uma amiga não acabasse amassada e desfigurada, isso uns vinte anos atrás. Hoje em dia a preocupação seria menor, com o domínio do glacê duro, a pasta americana, nas últimas décadas.

 
Bolos com cobertura de "buttercream" e decorados com flores naturais
da americana Claire Ptak, dona da confeitaria "Violet" de Londres,
escolhida por Meghan Markle e Príncipe Harry para fazer seu bolo de casamento.

Se Kate e William têm marcado sua atuação pelo respeito a tradições, Meghan e Harry prometem trazer inovações. Sem o peso e a responsabilidade do papel de futuros Rei e Rainha da Inglaterra, o novo casal real terá mais liberdade para serem eles mesmos. O bolo de casamento é um pequeno sinal disso.

Atualização em 20/Maio/2018: Harry e Meghan inovaram na escolha do bolo e, descobriu-se ontem, também em sua apresentação. O bolo teve seus andares distribuídos de forma assimétrica em suportes de alturas variadas. Acho que essa moda pega...!

O bolo em andares se espalhou

NOTAS:
Buttercream: Cobertura mole de suspiro. Creme resultante de manteiga batida com açúcar usada para cobrir e também rechear bolos. Pode-se adicionar claras de ovos para uma textura mais leve e essências e corantes para dar sabor e cor ao creme.
Doughnut: Rosquinha doce frita, podendo ter diferentes coberturas e recheios.
Elderflower: Xarope concentrado de flores de sabugueiro que pode ser a base de refrescos, caldas, cremes e sorvetes.

LINKS:
Boleira Fiona Cairns: http://www.fionacairns.com/
Padaria e Confeitaria Violet / Claire Ptak: http://www.violetcakes.com/

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Casamento Inglês: Torta de Ruibarbo (2)

Nota da matéria "Casamento Inglês", publicada,
em parte, na revista "Charlô", Edição 06, de Julho/2011
(2a parte)

HISTÓRIA

Dioscorides' rhubarb. Rhevbarbaro. (Rhubarb).
A renaissance illustration from Pietro Andrea Mattioli's Italian translation of
Dioscorides, ed. 3, Venice, V. Valgrisi, 1568.
Coloured drawing
Credit: Wellcome Library, London

O ruibarbo é nativo de região entre o Himalaia e a China onde 2.700 anos a.C., já se tinha notícia de seu uso como remédio para males do estômago e do intestino. Os mercadores da Rota da Seda trouxeram-no para a Europa, entre eles, Marco Polo no séc. XIII. A planta foi largamente cultivada às margens do Rio Volga, na Rússia, mas ela chegou à Grã-Bretanha somente no séc. XVI onde até meados do séc. XVIII, ela era considerada um remédio milagroso, purgativo, eliminador de excesso de sardas, cura do câncer, tudo! Custava três vezes mais do que ópio. Em 1760, descobriram que o ruibarbo rendia boas sobremesas. Que ninguém tenha pensado nisso antes deve-se, provavelmente, ao fato do açúcar, cujo uso é fundamental para contrabalançar o amargor do ruibarbo, ser muito escasso e caro até então.

Em 1817, um pé de ruibarbo foi parar acidentalmente numa pilha de estrume no Chelsea Physic Garden (jardim de plantas medicinais) de Londres e ao emergir dias depois glorioso e vermelho após o período passado no ambiente quentinho, levou à ideia de seu cultivo em estufas.

De toda maneira, já na era vitoriana (reino da Rainha Vitória, 1837-1901, ela mesma uma fã de ruibarbo, havendo até uma espécie com seu nome), o consumo do legume tido como fruta estava disseminado no País muito graças ao advento do mais palatável ruibarbo ‘forçado’, que ademais, no frio de Fevereiro, carente de outras variedades de legumes ou frutas, era a estrela isolada da estação.

Foi nesse período que se popularizaram as sobremesas com ruibarbo que compõem a memória afetiva de infância de tantos britânicos: cozido, ‘crumble’, torta, ‘fool’, tudo servido com generosas colheradas de creme de leite ou creme inglês.

Ruibarbo cozido
'Crumble' de ruibarbo
Torta de ruibarbo
'Fool' de ruibarbo

Para atender a essa crescente demanda, no final do século XIX, floresceu em Yorkshire, o ‘Triângulo Rosa’ ou ‘Triângulo do Ruibarbo” que antes da 2ª Guerra Mundial, chegou a concentrar mais de 200 produtores de ruibarbo ‘forçado’. Além do clima frio e úmido propício e solo argiloso adequado, Yorkshire tinha fartura de resíduos de lã gerados por sua indústria têxtil para servir de fertilizante para as plantas e de carvão à vontade de suas minas para fornecer calor para as estufas.

Com a guerra, o governo viu no ruibarbo uma maneira de prover fibras e vitaminas para uma nação mal-nutrida e congelou seu preço a um nível baixíssimo para torná-lo o mais acessível possível à população. De toda maneira, muitas vezes era mesmo só o que havia disponível. O resultado foi uma overdose de ruibarbo nos pratos britânicos, nem sempre do melhor, nem sempre bem preparado e muitas vezes enfiado goela abaixo de crianças e jovens. A guerra acabou em 1945, mas o racionamento do pós-guerra seguiu ainda por muitos anos e dá-lhe ruibarbo! Desnecessário dizer que muitos das gerações que viveram esse período ficaram traumatizados, tendo esgotado sua capacidade de ingerir mais um único pedaço de ruibarbo sequer.

Embora eu não tenha vivido isso, sempre tive uma má impressão de ruibarbo, não sei se por ter ouvido falar ou lido em algum lugar – Dickens, talvez? O pobre legume também ficou com fama de ser sobremesa ruim, típica de colégio interno. Enfim, o fato é que eis-me em casa de amigos no campo em pleno Inverno quando ouço que a sobremesa do almoço será torta de ruibarbo. Gelei. Mas para minha grande surpresa e alívio, me apareceu essa linda torta com um recheio vermelho que parecia regado a Campari e, para acompanhar, muito creme inglês – deliciosa combinação! E eu achava que ruibarbo era cinza! Era o outro, o ‘não-forçado’, na verdade marrom esverdeado... Há quem defenda ruibarbo de qualquer tipo alegando que no caso deste último, é só por mais açúcar.

Depois da guerra, o ruibarbo foi perdendo popularidade, mas apesar disso, até o começo dos anos 60, havia um trem que toda noite saía carregado de engradados de ruibarbo de Yorkshire em direção a Londres para abastecer o mercado em Covent Garden; o último saiu em 1966. O golpe de misericórdia foi a chegada ao mercado dos coloridos abacaxis, laranjas e bananas vindos dos trópicos relegando o ruibarbo a hortas caseiras ou comunitárias.

O ‘triângulo rosa’ em Yorkshire também sentiu: hoje restam 12 produtores, praticamente todos centenários, que continuam a produzir como nos tempos vitorianos em suas estufas escuras com colheita à luz de vela.

Passadas as décadas difíceis, o ruibarbo está experimentando um revival. Primeiro, por conta do conceito de sustentabilidade que valoriza os produtos locais vs. os importados e a ampliação de seu uso gastronômico. No caso do tipo ‘forçado’, contribuíram para isso também a disponibilidade do produto durante mais tempo durante o ano através do manejo de diferentes espécies, a obtenção junto à União Europeia de designação de origem protegida, a criação de um festival anual em Fevereiro para sua celebração e divulgação e a transformação das estufas em atração turística.

 Festival do Ruibarbo de Wakedfield, Yorkshire

A ameaça da vez são os holandeses que também produzem ruibarbo em estufas, conseguindo colocá-los no mercado algumas semanas antes dos ingleses, mas sem o mesmo sabor e textura.

Atualmente, o ruibarbo é apresentado em xarope, geleia, em calda compondo refrescos, cremes e sorvetes. Além de ser usado em uma infinidade de sobremesas, legume que é, ele também serve de acompanhamento para pratos salgados. Mais recentemente, estão misturando o xarope com bebidas alcoólicas como vodka e principalmente com gim e água tônica, uma tendência, parece. Cheers!

Receita de gin e água tônica com ruibarbo


Link:
Yorkshire Rhubarb: www.yorkshirerhubarb.co.uk


sexta-feira, 13 de abril de 2018

Casamento Inglês: Torta de Ruibarbo (1)


Nota da matéria "Casamento Inglês", publicada,
em parte, na revista "Charlô", Edição 06, de Julho/2011
(1a parte)

Nota da matéria "Casamento Inglês",
publicada na revista "Charlô", Edição 06, de Julho/2011

Quando li que o cardápio do casamento real ia ser bem britânico, logo pensei em torta de ruibarbo. Só depois lembrei-me de carneiro, Yorkshire pudding, salmão escocês.

Clássica torta de ruibarbo, normalmente servida com creme inglês

Será que ia ter? Teve! Na singela tartelette de ruibarbo com crème brulée servida no coquetel oferecido após a cerimônia do casamento.

Exemplos de 'tartellete' de ruibarbo, as duas últimas, com 'crême brulée'

Atualização em 20/Maio/2018: Não é que ontem, 19/Maio, o ruibarbo se fez novamente presente no cardápio da recepção do casamento do Príncipe Harry e Meghan Markle? Desta vez na forma de uma mini-torta de crumble de ruibarbo.


Mini torta de 'crumble' de ruibarbo

O ruibarbo na verdade é um legume, mas é visto e usado como fruta.

 

O chamado ruibarbo 'forçado' (forced rhubarb), de hastes avermelhadas, textura delicada e sabor acentuado e ligeiramente amargo é plantado no triângulo formado por Wakefield, Bradford e Leeds no condado de Yorkshire, no Norte da Inglaterra. Considerado uma iguaria, foi elevado ao patamar de alimentos e bebidas legalmente protegidos na Europa assim como o Champanhe e o presunto de Parma entre outros. Isto e o fato de demandar tanto aquecimento para suas estufas e tanta mão de obra para seu cultivo, leva esse tipo de ruibarbo a custar mais de £ 7 / quilo.

Cultivo de ruibarbo 'forçado' no condado de Yorkshire no Norte da Inglaterra.

Pois há o ruibarbo cultivado em larga escala, ao ar livre, barato, que dá quase o ano todo e este em estufas, produto típico do Inverno e começo da Primavera, algumas espécies podendo produzir ano adentro. As folhas de ambos, tóxicas, são verde escuro no primeiro e verde claro puxando para o âmbar no segundo. Comestível, o talo é esverdeado, mais rígido, fibroso e amargo em um e rosa-avermelhado, mais tenro e menos amargo no outro. O sabor de algumas espécies cultivadas em estufa se assemelha ao champanhe daí também chamarem o ruibarbo ‘forçado’ de ruibarbo ‘champanhe’.

O CULTIVO

Os ruibarbos ‘forçados’ são plantados inicialmente a campo e lá deixados por dois anos até suas raízes se tornarem fortes o suficiente para aguentarem o crescimento acelerado a que serão submetidas. No auge do frio, de preferência após uma geada, elas são levadas para estufas aquecidas e úmidas e totalmente escuras. O choque térmico, a umidade e o calor de 13° C levam as plantas a acreditarem que a Primavera chegou e a soltarem seus brotos que crescem rapidamente, a ponto de se poder ouví-los eclodindo – pop, pop...  – chegando a alturas superiores às das plantas cultivadas a campo.

Esse crescimento forçado que garante a altura, o paladar e a textura especiais e a colheita antecipada, esgota as raízes das plantas que depois da safra, precisam ser levadas de volta para o campo e deixadas lá por um ano ou dois para se recuperarem até nova ‘forçação’. Não só as estufas são escuras, como a colheita, toda manual, se dá sob a luz de velas! Isto para garantir a coloração rosa-avermelhada dos talos que desbotariam se expostos à luz solar ou elétrica.

Colheita à luz de velas

Link:
Yorkshire Rhubarb: www.yorkshirerhubarb.co.uk